— Calma, respira fundo e recomeça.
— É só mais uma fase.
— Não desiste agora.
Enquanto eu tentava me acalmar, ao fundo, as várias vozes aleatórias dançavam entre as buzinas e o barulho das obras. Cidade grande é uma coisa louca. Parece que tudo que você imagina está acontecendo ao mesmo tempo. Você vive rodeado de gente e de sons, mesmo quando se sente tão sozinha e em completo silêncio por dentro.
— Moça, você está na fila?
— Moça?
Alguém me chamava ao fundo. Eu até escutei, mas, apesar de estar do meu lado, a voz parecia tão distante. Eu não tive forças para responder. E, como esperado, em cidade grande, ninguém te espera. Você é apenas ignorada, e tudo segue em constante dança, a música nunca para. Vozes, buzinas, obra, a sirene da ambulância ou da polícia… Tanto faz. Nada para. Tudo tá sempre dançando. Sentei no ponto de ônibus e ali fiquei, presa nos meus pensamentos, só observando a dança.
— Moça, você está na fila?
— A doida nem responde, deixa ela aí, vai perder o ônibus.
— Moça?
Sabe aquele dia em que parece que nada se encaixa? É como se eu tivesse esquecido como se dança. Todos parecem tão sincronizados, e eu, completamente perdida na coreografia da vida.
— Moça
Há dois dias, eu tinha prometido para mim mesma que não iria mais me abalar. Eu estava tão confiante, tão certa, e, no primeiro passo errado, eu não queria mais continuar dançando. É muito doido, porque parece que você leva tanto tempo pra aprender e apenas dois segundos pra esquecer o quão forte você é.
— Moça, você está na fila?
Mais gente passando, passando, passando. As lágrimas desciam do meu rosto, mudas, doloridas, como se estivessem rasgando a minha pele. Tinha tanta gente ao lado, mas ninguém parecia se importar. Só estavam preocupados se eu ia sair da frente para eles passarem. Eu juro que, se alguém perguntasse se eu estava bem, eu arrancaria a minha última força para responder: “Não, eu não estou bem. Só diga qualquer coisa que faça isso que eu tô sentindo passar.”
— Moça, você está na fila?
— Não, eu não estou. Passa.
Eu gritei. Gritei com todas as minhas forças. Pude ver a cara assustada das pessoas. Ninguém perguntou como eu estava me sentindo, apenas julgaram a minha atitude, meu grito. Um a um, foram passando e seguindo suas vidas. O ônibus se foi, e mais uma vez eu perdi. Já tinha deixado uns dez passar. Eu até contaria o porquê de eu estar me sentindo assim, mas ninguém perguntou. Guardei para mim. Talvez seja por isso que a cidade grande colapsa tanto. Ninguém tá nem aí.
Respirei fundo e recomecei o meu mantra.
— Calma, respira fundo e recomeça.
— É só mais uma fase.
— Não desiste agora.
Entrei no ônibus seguinte e voltei para a dança. Nem sempre vai ter alguém. As histórias da vida real nem sempre terminam com finais felizes. E, em muitos dias, vai ter que ser a gente o nosso maior incentivador.
Vozes, buzinas, obras, sirenes, que música linda… Voltei a apreciar a coreografia e prometer pra mim mesma que, daqui pra frente, ia ser diferente, como quase todo dia…
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