Eu tenho uma coisa muito maluca com estrelas. Pra mim, tudo que tá no céu é estrela. Tudo que brilha é estrela e estrelas cadentes podem sim realizar desejos. Esse é um ‘eu’ que eu gosto, ele é fofo, aparece de vez em quando. O meu ‘eu’ que me preocupa é o que tá escrevendo, ele é o ‘eu’ que de alguma forma entende tudo que eu sinto, filtra e fica tão bonito escrito que nem parece que doeu. O ‘eu’ com quem eu vou ter aquele velho bate-papo que me faz refletir é o que mais me desafia e, geralmente, ele aparece quando eu tomo meu café. Sempre muito questionador e sarcástico.
— Ei, cheguei. — disse ele com a sua voz sarcástica de sempre, enquanto eu preparava o meu café.
Olhei para o lado e só consenti, ele sabia que eu já o esperava. Aquela parte de mim que eu sempre escondia, mas que, no fundo, sabia que precisava conversar. E ele estava ali, pronto pra isso.
— O que tá pegando dessa vez? — perguntou, com aquele jeito casual de quem já sabe a resposta, mas quer que eu diga.
Respirei fundo. Eu já sabia onde essa conversa ia parar, mas decidi embarcar nela mesmo assim.
— Eu não sei mais o que fazer. Parece que quanto mais eu corro, mais eu fico no mesmo lugar.
Ele sorriu em silêncio, como se já soubesse o que ia me dizer.
— Sempre com essa sensação de estar preso, né? Correndo em círculos… Já parou pra pensar que, talvez, o problema não seja a corrida, mas o que você tá tentando alcançar?
Essa pergunta me pegou de jeito. Fiquei em silêncio. Ele continuou, sem pressa.
— A gente vive tentando resolver tudo ao mesmo tempo. Trabalho, sonhos, medos… E você acha que vai resolver tudo assim, de uma vez?
— Eu só quero que as coisas façam sentido. — retruquei, com um pouco mais de força na voz do que pretendia.
Ele sorriu de novo. Tem aquele sorriso meio sarcástico, meio carinhoso, de quem sabe que tem mais a dizer.
— O que faz sentido, afinal? Quem define isso? Você? Ou a pressão que você coloca em si mesmo?
Eu fiquei ali, encarando meu café, tentando achar respostas que nunca pareciam vir. Ele ficou em silêncio por um tempo, dando espaço para a reflexão. Ao fundo, o som da TV rolava algum dorama que eu nem prestava atenção. Eu ouvia os passos no corredor, o barulho dos carros, dos ônibus… A vida seguia no mesmo ritmo, mas eu tinha parado pra me encontrar, por alguns segundos.
— Sabe, no fundo, você só tá lutando com você mesmo. — ele disse, quebrando o silêncio. — Não é o mundo que te pressiona. É você. E você não vai conseguir avançar enquanto não se der uma trégua.
Dei um longo gole no meu café, tentando engolir as palavras dele junto com o líquido amargo. Como ele podia estar tão certo?
— Então, o que eu faço? — perguntei, finalmente admitindo o que estava entalado na garganta.
Ele se aproximou mais e, quase olhando nos meus olhos, falou:
— Você precisa parar de correr por um tempo. Se escutar com mais atenção. Aprender a respirar de novo. Talvez o que você tá tentando encontrar já até esteja aí, mas você tá tão focado em buscar que nem percebeu.
Mais silêncio. Dessa vez, um silêncio de compreensão. Olhei pra ele e, de repente, percebi algo. A voz, o rosto, tudo aquilo… Não era alguém do lado de fora. Era dentro.
— Obrigado. — disse eu, pra mim mesmo, ou pra ele, tanto faz.
Levantei, lavei a caneca do meu café e mais uma vez recomecei. Era o começo de mais um dia. Às vezes, a gente só precisa parar de correr e trocar uma ideia com a gente mesmo. A solução, afinal, nunca esteve do lado de fora. Ela tá sempre dentro, a gente só precisa se ouvir.
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